sexta-feira, 6 de agosto de 2010

É PRECISO ATRAVESSAR A PONTE


É PRECISO ATRAVESSAR A PONTE




      A vida nas cidades já não acontece de forma linear, previsível ou minimamente regulada pelos antiquados padrões conservadores de nossos pais. Por isso, já não somos os mesmos, e não mais vivemos como os tais. Que pena.

      Assistir aos telejornais ou ler as páginas policiais de jornais impressos é uma ação que exige nervos de aço e muito estômago.

      Lembro-me de ter lido uma reportagem sobre um jovem assassino serial. Quando entrevistado, disse: “mato e vou dormir tranqüilo”. Perguntado sobre o porquê de fazer aquilo, o jovem não conteve as lágrimas que lhe escorriam dos olhos vermelhos, enquanto tentava justificar seus atos: “faço isso porque meus pais nunca ligaram pra mim, nunca me ajudaram”.

      Resultado de uma equação complexa que leva, ao imensurável, o grau de indiferença de uns pelos outros, somado com a banalização da crueldade e glamourização do individualismo predominante em nossa “civilização”, este caso é só uma ilustração, uma reprise do filme barato da vida real. Cenas de sangue que se repetem com uma freqüência tão rápida, que já não causam nenhum impacto. São os recortes do espetáculo midiático que se alimenta do produto final de nossas cidadelas: o banditismo por uma questão de classe, ou talvez por necessidade. É a vida real que se desenvolve nos becos escuros e vielas, com seu próprio código de leis e suas muitas mazelas, vividas por gente entretida demais com cada capítulo da novela das oito.

      Cansados demais da fustigante rotina, pais e filhos preferem nem mais se olhar cara a cara. Há coisas mais interessantes para fazer: abrir as páginas do Orkut, fazer um “upload”, deixar um “scrap” para algum ilustre desconhecido.

      Amor, então, é palavra cuja simples pronúncia é incômoda, cafona – normalmente só tem sido usada após um desses triviais orgasmos com o parceiro ou a parceira dos últimos dois meses. No mais, o que mais se diz e se ouve por aí é: “não tenho tempo”.

      Nossa atual geração, vivendo um ocaso intelectual com alto grau de conformismo, tem sido guiada por muitos gurus, dando tudo de si para levantar bandeiras de grandes causas. A mesma geração que vive correndo em busca de grandes esperanças, mas não tem dado nem as sobras do seu melhor àqueles a quem se pode ajudar. Fala-se muito sobre desenvolvimento, preservação ambiental, crise financeira global. Fala-se muito – e muito mesmo! - sobre a vida do vizinho. Mas quando o assunto é nossa família, ou nosso ambiente de trabalho, nosso círculo de amizades, impomos uma série de obstáculos quando percebemos que precisamos melhorar alguma coisa. Fantasiamos monstros fabulosos e verdadeiras epopéias quando percebemos que algo está errado em nosso relacionamento com as pessoas com quem convivemos. Somos, quase todos, adeptos da filosofia de vida que estão cantando (digo, berrando) por aí: “...cada um no seu quadrado”.

      De acordo com o dicionário, a palavra afeto equivale a amor, afeição, amizade. Sempre me vêm à mente umas frases de um certo senhor chamado Paulo, escritor de mais de uma dezena de cartas muito lidas e relidas nesses últimos dois mil anos: “Ainda que eu falasse a língua dos homens e dos anjos, sem amor, eu nada seria” e, noutro trecho, continua: “seria como o címbalo que retine ou como o metal que soa”. Ou seja, faria muito barulho e obteria pouco resultado. Mas, na realidade, só temos falado a língua do “l’argent”, dos próprios interesses, olhando cada qual para seu próprio umbigo e nada mais.

      Fica aqui uma pequena reflexão: podemos promover fóruns sociais mundiais com convidados ilustres e ganhadores de prêmio Nobel, discutir e elaborar planos de ações para um novo tempo, vislumbrar um mundo colorido e pacífico para todos os habitantes da Terra. Mas, de nada vai adiantar se não houver, na essência das intenções, a sinceridade e o afeto.

      É preciso atravessar a ponte. A ponte que separa o homem que agora somos, do homem que queremos e devemos ser.

7 comentários:

  1. Muito interessante o q vc escreveu, mas a realidade do "nosso" dia a dia é q nos leva a isso, por questão de "sobrevivência". Sabe qual é o nome disso (pelo menos na minha opinião), a tecnologia.
    Gosteiiii !
    Um abraço !
    G

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  2. Caro Nilvan,

    Quero parabenizà-lo pela brilhante iniciativa do blog, ele está bem elegante, heim ! rsrsr !
    Gostei da lúcida primeira mensagem postada. Realmente devemos "atravessar a ponte", e creio que a fé, é o grande elemento que torna todas as coisas possiveis !
    Grande abraço, do seu irmão,

    Edilson Braga Junior

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  3. Caríssimos amigos...que felicidade os meus primeiros leitores serem vocês. Gê, forever..rsrs. E o excelentíssimo Sr. Edilson de Holanda Braga Júnior. Lisongeado estou, pronto.rsrs.

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  4. Caro Amigo Nilvan,parabens pelo blog,
    é com muito prazer que leio esta mensagem,fico feliz por existir pessoas como voce que se preocupa com tudo o que atualmente vem acontecendo ao nosso redor,e que de alguma forma se esforça para dá sua contribuição.Infelizmente a sua mensagem é uma realidade que precisa ser vista e mudada, e somos nós mesmo os responsáveis por essa mudança, e creio que somente com o temor de Deus em nossas vidas isso pode acontecer.
    Um forte abraço,e muito sucesso.

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  5. Meu caro Nilvan,
    É com prazer que visito o seu blog e como o esperado, fui surpreendido pela forma genial que escreves. Na verdade compartilho do seu pensamento e digo que a tecnologia têm parte de culpa nesse processo de desafeição,entretanto, somos sabedores que o ser humano, muito antes da existência destas tecnologias já se afastava de Deus por motivos banais, o que nos faria chegar neste estado de "quase inexistência" do AMOR, claro que em um processo mais lento e descondensado. O mais correto a fazer é seguir a sua sugestão e atravessar a ponte...
    Um Abraço

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  6. Valeu Diegão. Nem imaginas o quanto é recompensador tê-lo comentando meu texto. Vem mais por aí. Valeu.

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